Compositora - rezadeira, parteira, e mestra de reisado que encantou a todos, e a mim com sua poesia sonora
Foto: Reprodução site Sertão Paulistano
Como já contei aqui, em uma carta para o Nelson Motta, o acaso me levou até a dança do ventre. Foi paixão na primeira ouvida:as batidas do derbake me tocaram num ponto adormecido do coração, a lembrança dos tambores e ritmos afro brasileiros que tanto amava na Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes (que se encerra neste fim de semana). Curiosa, quando me deparei com um derbake e um pandeiro árabe (o riq drum) fui tentar entender como funcionava pra criar aquele ar de "As Mil e uma Noites".
As bailarinas de dança do ventre não escutam a música e saem dançando. Existe muito estudo de técnicas e ritmos para que o quadril possa acompanhar as batidas e os instrumentos. Com nossos ventres, braços e mãos fazemos a leitura do que a melodia indica. Não satisfeita adquiri um riq drum para aprender com profundidade como tocar os ritmos que me fazem dançar. Ele chegou, todo lindo de pele de carneiro - o cheiro é um pouco forte- mas isso não tirou a alegria da criança aqui com seu novo instrumento musical. Buscando aulas no YouTube e na rede, descobri que o "Malfuf", ritmo que anuncia a entrada das bailarinas nas danças folclóricas deu origem ao nosso baião. Nossa herança de nossos irmãos mulçumanos seria a batida de compasso 2/4.
De posse de meu pandeiro busquei no meu "google interno" algumas músicas que amo e fiz vários testes. Até que me lembrei de uma lançada pela banda Bicho de Pé em 2003 cuja cifra no violão não encontrei, mas que ali naquele compasso caberia perfeitamente : "Jangadeiro" de Mestra Virgínia de Alagoas.
Vocês sabem quem foi Mestra Virgínia de Alagoas?
Alagoana de Rio Novo foi benzedeira, parteira de profissão, mestra de reisado - comandou o grupo Três Amores- autora e intérprete de muitas músicas que cantavam a cultura popular alagoana. Também autora de versos encantadores que assim como o canto da sereia, hipnotizaram pesquisadores, músicos, professores e entusiastas da arte popular. Dona Virgínia de Moraes das Alagoas viveu até o ano de 2003, quando levou os cânticos do reisado para o outro plano, deixando sua poesia singela para amantes da cultura popular - como esta que vos escreve. Esta Virgínia sim, merece todas as reverências.
Minha quinta da saudade vai dividir com vocês "Jangadeiro", por esta jornalista, aprendiz de bailarina e que vez em quando deixa sair o "canto da sereia"...
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